SOL(t)O
Bio
Victor Gama (1960) nasceu em Angola e vive actualmente entre Sintra, Bogotá e Luanda. O seu trabalho de composição e construção de instrumentos musicais contemporâneos tem vindo a atraír encomendas por parte de alguns dos ensembles e instituições de prestígio mundial como a Kronos Performing Arts Association, o National Museums of Scotland, o Tenement Museum ou a Prince Claus Fonds. A sua obra mais recente para quarteto de cordas e Pangeia Instrumentos foi estreada pelo Kronos Quartet no Carnegie Hall em Nova Iorque em Março de 2010, onde também apresentou SOL(t)O. Gama tem estado na origem de projectos como Berimbau-Ungu com Naná Vasconcelos e Kituxi, que acompanhou em 2004 numa tournê pela África Austral, o Folk Songs Trio com os nova iorquinos William Parker e Guillermo E. Brown e a Makakata Exchange na África do Sul com Diso Platges e os Kalahary Surfers. Iniciou em 1997 e desenvolve actualmente o primeiro arquivo digital de músicos do interior de Angola, o projecto Tsikaya. Gama tem vindo a trabalhar sobre o fenómeno de metamorfose dos instrumentos musicais investigando a sua evolução desde períodos tão distantes como a pré-história até aos dias de hoje. Este fenómeno sugere-lhe que a forma seja um elemento dinâmico no processo de composição e cria a Teoria dos Modos Golianos, uma teorização em que a escrita musical inclui a concepção, design e construção dos instrumento com que a obra é executada, dando assim origem à série Pangeia Instrumentos. Apesar de se inspirar na música e instrumentos tradicionais de Angola como o kissange, o ungu, a m’burumbumba, a tchisumba, a tsikaya e outros, o seu trabalho como compositor revela um potencial de transformação para além das estruturas da tradição. A paleta sonora que cria através dos seus Pangeia Instrumentos é construída a partir de elementos percussivos e arpejos de cordas que fecham um círculo entre a música de gamelão indonésio e os compositores contemporâneos como Francis Bebey, Steve Reich, Michael Nyman ou Erik Satie.
Sinopse
Na performance Man in the desert, retirada do projecto tectonik:TOMBUA, de onde sai também o acompanhamento vídeo para SOL(t)O, Victor Gama vagueia pelo deserto captando o som amplificado de uma vara que arrasta pelo chão. Em termos sonoros, somos capazes de imaginar o resultado da recolha, mas o verdadeiro significado deste caminho fala mais alto que a gravação: Victor Gama é um viajante telúrico. E o trajecto que se propõe executar, apesar da sua salutar errância, cruza territórios, culturas e linguagens num espaço tão vasto como a superfície da Terra, evitando habilmente a consciência etnográfica ou a ameaça do fusionismo. Não surpreende, por isso, que o músico tivesse necessidade de desenhar e construir os seus próprios instrumentos como legítimos intérpretes desse léxico original onde funde conceitos de design, tecnologia, música e performance. Acrux, Toha e Dino são três desses magníficos instrumentos que iremos escutar nesta noite em SOL(t)O, uma peça que ganhou novo arranjo recente graças ao convite de David Harrington, do Kronos Quartet, para a apresentar no Carnegie Hall em Nova Iorque, em Março passado, juntamente com a estreia mundial de Rio Cunene, escrito exclusivamente para o quarteto. Composto por três partes elaboradas para cada um dos três instrumentos, SOL(t)O é um monumento singular da música universal, um voo planante sobre uma etnografia inventada e uma belíssima coreografia visual que nos remete para algo ancestral. A eterna dúvida da sua geografia e tempo faz-nos crer que estamos perante a pura definição de música clássica e eterna, algures entre a simplicidade da primitiva mbira e a complexidade da herança revolucionária de Harry Partch.