Nurse With Wound & Blind Cave Salamander
Sinopse
Na urgência de se encontrar o disco perfeito dos Nurse With Wound, talvez tenhamos a tentação de recuar até ao início, ainda na década de 70, para recuperar Chance Meeting On A Dissecting Table Of A Sewing Machine And An Umbrella, a sua fulgurante estreia – mesmo que timidamente contestada –, quando eram claramente influenciados pelas colagens e ebulições kraut dos Faust. A banda ainda não espelhava fielmente o que Steven Stapleton pretendia, mas, ainda assim, fabricou um dos mais energéticos e libertários manifestos musicais do final do século XX. A esse álbum seguiu-se uma colecção de desdobramentos revigorantes do industrial, do noise, entre a inspiração Surrealista e a convicção Dada; e por isso, em 1988, quando editaram Soliloquy for Lilith, algo mudou drasticamente para sempre. O álbum, lançado num ambicioso triplo vinil, oferecia seis longos temas que dançavam em lenta espiral, numa espécie de transe meticuloso, construídos quase exclusivamente pela influência corporal de Stapleton e Diana Rogerson nos campos magnético e eléctrico dos instrumentos e utensílios utilizados. Esta imaterialidade, tanto musical como dos seus processos criativos, poderá ser vista agora como crucial nas aproximações dos Nurse With Wound à espiritualidade que sempre procuraram. Invisíveis ao público durante toda a carreira, foi só a partir de 2006 que Stapleton decidiu enfrentar os concertos – ouvir uma orquestração possível, em conjunto com os Blind Cave Salamander (Fabrizio Modonese Palumbo e Paul Beauchamp), de Soliloquy for Lilith é tanto um desafio como uma hipótese de comunhão colectiva única.