The Play Zone
Folha de Sala
É nos seus workshops de riso que Laraaji explica o seu conceito de play zone, um local onde convoca os seus participantes a libertarem a sua “criança interior” para se libertarem das proteções e limites, ficando vulneráveis e disponíveis. Na sua definição, este jogo espontâneo de exploração de sensações é também um catalisador musical, das interações livres entre músicos. Talvez por isso a vida de Laraaji se tenha cruzado com músicos que procuraram essa liberdade criativa e a exploração dos limites. Cameron Stallones e os seus Sun Araw são a mais recente adição a essa lista, quase óbvia, de artistas que pensam o mundo da mesma maneira. The Play Zone é um concerto feito de três partes, em que ouvimos as três peças distintas desta noite: primeiro, Sun Araw expõem a sua visão tribalista sintética; depois, com Laraaji mostram-nos como tudo conflui para um centro místico e de celebração; no final, Laraaji, sozinho, faz-nos abandonar o corpo e olhar o transcendente. Primitivo e moderno, The Play Zone é uma viagem sonora psicadélica e celestial aos nossos sentidos.
Laraaji Venus Nadabrahmananda é um músico, místico e um professor de meditação do riso, nascido em Filadélfia e sedeado em Nova Iorque. Durante a sua infância estuda academicamente vários instrumentos, mas dedica-se à composição e ao piano graças a uma bolsa da Howard University. A sua primeira ligação às artes é com a representação, obrigando-o a mudar-se definitivamente para Nova Iorque. Estuda misticismo e religiões orientais, acabando por aplicar estes conhecimentos à sua música. A carreira musical de Laraaji começa nas ruas de Nova Iorque, nos anos 70, criando mantras improvisadas numa pequena harpa, comprada em segunda mão, modificada pela eletrónica. É numa dessas suas atuações que atrai Brian Eno que o faz participar no terceiro volume da iconográfica série Ambient. Day Of Radiance, editado em 1980 — sucederia a Celestial Vibration, editado dois anos antes sob o nome de batismo, Edward Larry Gordon —, acabaria por fazer quase tudo pela sua carreira, colocando o seu nome nos livros definitivos do ambientalismo contemporâneo. O seu percurso até aos dias de hoje é feito de largas dezenas de discos, alguns em colaboração com outras figuras importantes como Bill Laswell ou Michael Brook. Parte deste percurso está a ser agora redescoberto com novas edições na All Saints — que também pertenceu a Brian Eno e está agora nas mãos da poderosa Warp: Celestial Music: 1978-2011 compila várias colaborações e um inédito; Two Sides Of Laraaji junta Flow Goes To The Universe e The Way Out Is The Way In, dois álbuns importantíssimos há muito indisponíveis, de 1992 e 1995, respetivamente; e, por último, a obra-prima Essence/Universe, de 1987. Depois de, em 2011, ter colaborado ao vivo e em disco com os Blues Control, os Sun Araw são os seus novos cúmplices celestiais.
Desde 2008, Sun Araw também tem sido sinónimo de produção musical intensa. Entre álbuns, EP, cassetes e maxis, é uma tarefa complexa acertarmos um número. O que fica é que Cameron Stallones tem sido um eloquente músico — e artista visual — que, a partir de Los Angeles, tem marcado a criação contemporânea. Música sem espaço e tempo, os Sun Araw gravitam numa espécie de neblina hipnótica e psicadélica — e por vezes funk e tropical — em torno do rock, embora nem sempre isso seja perfeitamente percetível. Celebram geografias distantes, colaborações improváveis, eletrónica traficada e um gosto por canções — às vezes pop, às vezes concretas — que se esboroam no ar: tudo parece importar na construção da música de Sun Araw, dos Pyramids a Steve Reich, de Boredoms aos Big Star. Tudo diluído numa vibe que só poderia existir na soalheira costa oeste americana. Depois de terem viajado pela Jamaica com The Congos, Cameron Stallones e Alex Gray entram na play zone de Laraaji para outras contemplações e resultados.
Menores de 30 anos 5€
Sinopse
Foi nos finais da década de 70 que Brian Eno o viu a tocar num parque em Greenwich Village, em Nova Iorque. Quando, pouco depois, o convidou para integrar um dos volumes da sacrossanta série ambiental ― Ambient 3: Day of Radiance ―, já Laraaji, ou Edward Larry Gordon, havia começado o seu trajeto rumo ao Cosmos. Ainda hoje, Celestial Vibrations, a sua estreia em 1978, parece ser um mapa detalhado dessa jornada. Praticante de meditação transcendental desde o início dos anos 70, as suas composições acabariam por espelhar o dom levitacional da sua linguagem sonora aberta ao acaso, à intuição e aos nossos sentidos primários. É dessa generosidade que vem o abraço às novas gerações que lhe vão reconhecendo influência referencial, numa altura em que a new age ganha a distância necessária do seu epicentro para se tornar num género de profunda apreciação. Os sempre brilhantes Sun Araw, cultivadores igualmente cósmicos embora numa vertente psicadélica assente em misticismo terreno, são os perfeitos acólitos para acompanhar Laraaji nas suas play zones. É para uma viagem celestial a esses lugares onde sensações brotam espontaneamente que estaremos todos convocados.