8+ anos
Miguel Fragata
Folha de Sala
O texto deste espetáculo, escrito por Inês Barahona e Miguel Fragata, nasceu a partir de uma extensa pesquisa feita junto de crianças e adultos (em escolas e outras instituições). A tentativa foi de perceber o que uns pensavam sobre os outros. Era irresistível fazer algumas perguntas sobre este assunto aos seus criadores:
Susana Menezes (SM): O vosso espetáculo é para crianças e é para adultos. Por onde começaram?
Inês Barahona e Miguel Fragata (IB/MF): Por ambos ao mesmo tempo. Quisemos saber juntos dos adultos o que é ser adulto, e junto das crianças o que é ser criança. Depois quisemos confrontar o que é que os adultos pensavam sobre as crianças e o que é que as crianças pensavam sobre os adultos.
SM: Porque é que escolheram separar o público?
IB/MF: Por várias razões. Desde logo, porque nos parecia que essa separação era real. Para falarmos sobre ela, pensámos numa forma de a tornar concreta, lançando uma provocação, um jogo, que faz pensar: porque é que estamos separados? O que será que está a acontecer do outro lado? Será que o lado de lá é melhor?
SM: Porque é que acham que muitas crianças desejam ser adultos?
IB/MF: Descobrimos que a maior parte das crianças prefere ser criança, mas todas elas nos disseram que ser adulto tinha também vantagens como poder decidir e mandar.
SM: E que muitos adultos gostariam de ainda ser crianças?
IB/MF: Descobrimos que a maior parte dos adultos prefere ser adulto, apesar de ter normalmente boas recordações da infância, ter saudades da liberdade, do tempo, das brincadeiras. E apesar dos adultos dizerem que ser adulto é muito difícil, quando lhes perguntámos se preferiam voltar a ser crianças, eles disseram que não.
SM: Mas nesse caso estamos todos trocados?
IB/MF: Não. Cada um está no seu lugar. Temos é a tendência para achar que a galinha da vizinha é sempre melhor do que a minha, que o espetáculo do outro lado é muito mais divertido…
SM: Será que é possível encontrar conforto em ser-se criança quando se é criança e adulto quando se é adulto?
IB/MF: Nós achamos que sim. Mas para isso, talvez seja preciso que as crianças tenham espaço para tomar algumas decisões e assumir responsabilidades, e que os adultos se deem espaço para recuperar algumas das coisas que invejam nas crianças e que pensam ter perdido.
SM: E como é que se pode representar isso num teatro?
IB/MF: É preciso ver e viver o espetáculo!
SM: Acham que um espetáculo pode ajudar a criança a compreender melhor o adulto e o adulto a compreender melhor a criança?
IB/MF: Sim, pode, se adultos e crianças tiverem espaço, tempo e vontade para refletir e conversar sobre as suas perspetivas e as suas visões.
SM: Podemos dizer que este espetáculo é uma espécie de lição?
IB/MF: Não. É uma visão sobre estes temas.
SM: Com que idade acham que se é adulto?
IB/MF: Nós não sabemos muito bem. Sabemos que nós já somos adultos, mas não sabemos quando é que isso nos aconteceu. Cada pessoa tem a sua história e o momento de se tornar adulto é diferente para cada um. Mais importante do que a idade é a sensação verdadeira de que se está em determinada fase da vida.
Neste espetáculo, adultos e crianças são separados à chegada, reunindo-se no final. Aconselhamos famílias e educadores a trazerem apenas crianças com idade superior a 8 anos. Não é permitida a entrada a crianças menores de 6 anos.
Sinopse
26 e 27 setembro 15h • exposição e atividades no foyerentrada livre26 e 27 setembro 17h • projeção do documentário de Maria Remédio The Wall ― A pesquisasala de ensaios • entrada livre (sujeita à lotação da sala) mediante levantamento prévio de bilhete no próprio dia