Marta Bernardes e Afonso Cruz
Folha de Sala
Fizemos algumas perguntas à Marta Bernardes para ficarmos a saber mais sobre este espetáculo.
SUSANA MENEZES: O que é uma barafunda?
MARTA BERNARDES: Uma barafunda é uma espécie de festa das coisas: quando as vemos espelhadas e desarrumadas, a ocupar mais espaço do que o normal. É uma confusão, mas brincar e dançar com as coisas cria sempre um bocadinho de desordem, não é? É como um céu estrelado.
SUSANA: Porque é que fizeste um espetáculo que se chama Barafunda?
MARTA: Porque acho muito importante olhar com atenção a vida das coisas: perceber como elas vão de um sítio para o outro, como acontece que num momento estão num lado e no outro momento já estão noutro lado diferente. E também porque gosto muito de aprender a arrumar as coisas e saber como as outras pessoas arrumam. A forma como cada um arruma o seu quarto é uma forma muito linda de conhecer essa pessoa.
SUSANA: Os teus pais diziam que eras desarrumada?
MARTA: Um bocadinho. Mas eu ficava muito espantada, porque não me lembrava de ter feito esforço nenhum para desarrumar. Ficava curiosa: como é que aconteceu as coisas desarrumarem-se? Arrumar dá tanto trabalho e, depois, desarrumar parece que acontece sem nós nos apercebermos. Mas aos bocadinhos fui-me tornando muito arrumadinha, e aprendi a gostar de encontrar o cantinho preferido dos meus lápis, das minhas camisolas, dos meus brinquedos.
SUSANA: Obrigavam-te a arrumar o quarto?
MARTA: Obrigavam, claro. E as primeiras vezes até me ajudavam que eu não sabia muito bem escolher o sítio para as minhas coisas. Mas depois foi fácil aprender e já nem precisavam de me dizer para arrumar o quarto que eu sozinha, quando achava que era festa a mais, que já não encontrava os meus livros e isso me chateava, arrumava tudo muito arrumadinho, para poder encontrar tudo o que queria sem ter de procurar. É muito bom ter tudo arrumado, encontramos tudo à primeira!
Todas as músicas do espetáculo foram inventadas pela Marta e pelo Nuno.
Nós gostamos muito desta!
Afinal é fácil arrumar
é só pôr
cada coisa em seu lugar
Procurar
para cada forma
o seu par
não tem nada que enganar.
Triângulos com triângulos
Fácil
Círculos com círculos,
Fácil
Quadrado com quadrados
Fácil
formas de que não conheço o nome
e não faz mal
desde que estejam
com uma forma igual
Afinal não é difícil arrumar
é só pôr
cada coisa em seu lugar
encontrar os parecidos e juntar
cada coisa com o seu par
cada coisa com o seu igual
e também as que não sei
o nome e não faz mal
Triângulos com triângulos
Fácil
Círculos com círculos,
Fácil
Quadrado com quadrados
Fácil
já está arrumado não está?
“As coisas nunca estão todas arrumadas nem todas desarrumadas. Elas vão dançando e mexendo-se e nós ao olhar para elas com atenção… Vamos ajudando-as a encontrar o lugar de que elas gostam.
Ari: As coisas dançam e nós dançamos com elas nem que seja a vê-las dançar. Dançamos com os olhos? Que coisa tão difícil!
Nave: Não é difícil. É simples como ver as estrelas e dar-lhes um nome. Acredita!”
Já pensaste que há várias formas de arrumar? Assim como há várias formas de pensar. E como somos todos diferentes arrumamos e desarrumamos de forma diferente.
E tu, como é que arrumas o teu quarto? Juntas os super-heróis com as bonecas pequeninas? E os legos com os lápis de cor? Porquê?
Queres arrumar estas formas que andam por aqui espalhadas? Podes pintá-las, recortá-las e colá-las numa outra folha mais grossa, fazer conjuntos ou organizá-las como mais gostares.
Sinopse
Mas porque é que as coisas se desarrumam? Bem vistas as coisas, passamos tanto tempo a trabalhar para ter as coisas em ordem, mas as coisas acabam sempre fora de sítio, e em algum momento lá estamos nós outra vez a arrumar o que se desarrumou. Mas como é que isto acontece? Quando é que as coisas se desarrumam? E porquê? Será que as coisas têm vontade própria? Se calhar não gostam de estar no sítio onde estão. Se calhar não é o sítio delas. Mas como é que a gente sabe qual é o sítio delas? Talvez sejamos nós que não conseguimos saber que elas têm um sítio só delas, onde estão bem e do qual nunca quererão sair. Será que nós não o conhecemos porque não ouvimos as coisas com atenção? Mas, e se for impossível ouvir as coisas? Mas afinal quem é que diz quando as coisas estão desarrumadas ou não? E quem é que decide onde é o sítio certo das coisas? Aiii! Que confusão! Que barafunda! Vamos lá arregaçar as mangas às ideias e ver se conseguimos pôr alguma ordem nisto!
Marta Bernardes