Rui Catalão
Bios
O trabalho cénico de Rui Catalão (n. 1971, Cacém) ronda os temas da memória, do acaso, da fragilidade, da transparência, de uma relação interpelativa com o público e de como o acto de contar histórias altera a percepção de um dado corpo. É autor e intérprete dos solos Dentro das palavras (26 espectáculos em Portugal, Roménia e Eslovénia em 2010-11) e Auto-retrato assistido de Constantin Brâncushi (2011). Em 2012, estreou Melodrama para 2 atores & um fantasma e Manifesto de Goya (na Noite do Manifesto), ambos no Teatro Maria Matos. Fez ainda as peças de grupo Elogio da classe política portuguesa (2004); Domados, ou não (com os alunos da escola Balleteatro na Fundação Serralves, 2011) e escreveu a peça Ester, encenada por 12 companhias de teatro juvenil para o programa Panos 2013, da Culturgest.
Colabora habitualmente com o casal João Galante-Ana Borralho, tendo trabalhado na dramaturgia de Estalo Novo (com a Companhia Maior, 2013), Atlas (2012) e Untitled-still life (2009).
Em 2006-2009 viveu na Roménia, centralizando a sua actividade como dramaturgo e performer no Centrul National al Dansului, em Bucareste; assinou as peças de grupo Atît de frageda, Coada Soricelului, Follow that summer; assinou a dramaturgia para peças de Madalina Dan (Iluzionistele), Mihaela Dancs e Carmen Cotofana (First steps); apresentou as séries de improvisação Acum totsi împreuna e Rui no CNDB; dirigiu workshops de dramaturgia e performance em Bucareste e Cluj.
Em 2009 fez uma residência artística no Teatro Cullberg (Estocolmo); e participou no festival Springdance (Utrecht), onde apresentou o seu dispositivo de cinema-ao-vivo. Trabalhou ainda com João Fiadeiro, Miguel Pereira, Manuel Pelmus, Brynjar Bandlien, Maile Colbert e Eduard Gabia (com quem apresentou How to become invisible no Festival de Avignon, 2011).
No cinema, escreveu os argumentos de O capacete dourado e Morrer como um homem; e foi actor em A cara que mereces, de Miguel Gomes. Colaborador episódico do suplemento Ípsilon do jornal Público, concebeu e organizou o livro “Anne Teresa De Keersmaeker em Lisboa” (INCM), a convite dos programadores de Artista na Cidade, e é autor de Ingredientes do Mundo Perfeito, sobre o teatro de Tiago Rodrigues.
João Bento (sonoplasta) Nasceu no Fundão em 1980. Vive em Montemor-o-Novo. Licenciado em Artes Plásticas pela ESAD de Caldas Rainha-Portugal. Desde 2004 compõe som para performance, dança, filmes experimentais, peças de teatro e vídeo em live act. O seu trabalho articula instrumentos analógicos e objectos sonoros, usados num contexto multidisciplinar. Desenvolveu técnicas de música improvisada com o músico Greeg Moore e Theremin com Pamilia Kurstin. Entre 2004 e 2006 coordenou o Projecto VS (plataforma internacional de vídeo experimental). Co-criador, compositor e performer em Canal Zero, Sem Título até Hoje e Aletheia com Ana Trincão, Le Coq is Dead com Luíz Antunes , Francisco Pedro e Allan Falieri, Future Perfect com Kerem Gelebek, Untitled Natura/Live com Ben J.Riepe Company e Secalharidade com João Fiadeiro. Membro do colectivo Interferências criado no Encontro Internacional de Artes Performativas-México 2010 onde desenvolveu um estudo e workshop que questiona a relação entre corpo e som. É artista associado do centro de artes transdisciplinares Espaço do Tempo em Portugal. Actualmente trabalha com a companhia alemã Ben J. Riepe Company como músico e performer. Trabalhou em projectos educativos com o CRAC.DC (Centro de Recursos Artísticos para a Comunidade) de Óbidos, Serviço Educativo da Moagem (Casa do Engenho e das Artes) do Fundão e o CENTA (Centro de Estudos de novas Tendências Artísticas) onde construiu actividades relacionadas com as Artes Plásticas. Actualmente desenvolve trabalhos pedagógicos com Pia Kramer – Espaço do Tempo e o CAMB (Centro de Arte Manuel de Brito) de Algés e a Culturgest. Os seus projectos são regularmente apresentados em Portugal, Espanha, França, México, Alemanha e India.
Cristóvão Cunha (desenhador de luz) Licenciado em Comunicação Social na ESEV, tem o curso de Comunicación Audiovisual na Facultad de Ciencias Sociales e de Animación Sociocultural da Universidad de Salamanca. Foi técnico de luz no Teatro Viriato, e é o responsável técnico residente nas digressões de Jim da Companhia Paulo Ribeiro. Fez desenho de luz para Paulo Ribeiro (melhor coreografia SPA 2011), Madalena Vitorino (melhor coreografia SPA 2010), Circolando (foi director técnico e desenhador de luz em 2006-12), John Mowat, Romulus Neagu, Patrick Muryes, Ferloscardo,Yola Pinto, Emanuela Guaiana, Anne Kefleck, Almina Aloui, Pieter Michael Dietz, Giacomo Scalisi, Ferloscardo, Jorge Fraga, Claudio Hauchman. É director artístico do festival Palco para Dois ou Menos, pela associação NACO em Oliveirinha, Carregal do Sal; e é formador no módulo Iluminação do curso de Animação Cultural da Escola Superior de Educação de Viseu e na Escola Superior de Educação de Bragança; foi presidente do Cine Clube de Viseu e esteve envolvido como actor no Teatro da Academia (grupo universitário) em Viseu, prémio melhor obra teatro FATAL 2012.
Pedro Oliveira (músico) Nasceu em 1975. Licenciado em línguas e literaturas modernas, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, formou com João Pedro Pinto, o projecto de música de dança Spider, que em 2002, depois de uma viragem estética, deu origem a Blarmino. Entretanto integrou os One Love Family (com quem gravou o álbum “Allelujah”, 2007); Monomoy (“Monomoy”, 2008) e os Mau (“Backseat love songs”, 2010). Com os Spider, fez a banda sonora de “Aicnêtsixe” (2001), de João Fiadeiro.
Azusa Dannohara (estilista têxtil/figurinista) Nasceu em Tóquio. Formou-se em Design têxtil, no Central Saint Martins (Londres) e no departamento de design de moda, no Bunka Fashion College (Tóquio). Trabalha no Studio Toogood, depois de ter passado pelo Might-T de Kumiko Watari e com Miyoko Kamijo (Inglaterra). Em 2012 venceu o pr´rmio Textprint Finalista (Londres) e exibiu peças suas nas exposições Wearable art gallery Project (Art Basel, Miami); Premiere vision (Parc d’Expositions Paris Nord Villepinte); Textprint Showcase (Triangle Building as Chelsea Collage, Londres); BA Textile Design DegreeShow (Central Saint Martins King’s Cross Builduing, Londres); New Designers (Business Design Centre, Londres). Algum do seu trabalho está disponível em www.azusadannohara.com/link.html ; spectrumexplosion.blogspot.co.uk/
Tânia M. Guerreiro (Produções Independentes) Nasceu em 1975. É licenciada em cenografia pela Escola Superior de Teatro e Cinema (2007), tendo terminado o curso em Barcelona no Institut del Teatre. Completou a sua formação com o curso de Gestão e Produção das Artes do Espetáculo do Forum Dança. Trabalhou em várias áreas da produção de espetáculos, cinema, artes plásticas, festivais – como o Festival Atlântico, Festival Temps d’Images e Alkantara – e em estruturas como a Casa d’os Dias da Água, ZDB, Transforma, Jangada de Pedra, onde desempenhou funções de produção, gestão, angariação de financiamentos e comunicação. De Janeiro de 2009 a Outubro de 2010, desempenhou funções de coordenação executiva na Rede – Associação de Estruturas para a Dança Contemporânea. Em Agosto de 2009, juntamente com outros profissionais da produção, cria uma plataforma de trabalho para produtores independentes – Produções Independentes – onde desenvolve colaborações com artistas independentes e estruturas de criação e programação. Entre 2012 e 2013 estabeleceu uma colaboração com a Transforma, em Torres Vedras, como programadora das atividades e apoiou o desenvolvimento de projetos europeus.
Folha de Sala
Entrevista ao rui catalão
por Mark Deputter e Pedro Santos, feita por e-mail, junho 2014
Mark No dossiê sobre o projeto canções i comentários, escreves que se trata de “um ato de resgate cultural, um documentário cénico sobre a música de Blarmino”. Vês este empreendimento como um trabalho arqueológico ou antes como um ato político? Queres descobrir algo que ficou esquecido ou devolver uma obra artística ao mundo?
Rui Não reconheço em mim competência para criar atos políticos ou fazer um trabalho arqueológico. Agrada-me estar no meu canto do parque infantil, a conquistar novos amigos para as coisas que me interessam. A música de Blarmino não foi esquecida. Ainda está muito presente na memória dos muito poucos que tiveram a felicidade de ouvi-lo tocar. Quando alguém como Blarmino se cruza contigo, através de canções ou pela convivência, é como um ferro em brasa. Há pessoas que pouco mais nos dão do que a alegria de pertencer a este mundo. Por um qualquer mistério, pessoas assim são esquivas, gostam de se esconder, mas quando estamos na companhia delas tocam-nos em órgãos que nem imaginávamos existir. O que só as torna mais divertidas e fascinantes. Esta peça é a minha maneira de dizer: nós pensamos que vivemos um tempo difícil porque não há trabalho, não há dinheiro e não conseguimos fazer o que queremos; mas este é um tempo difícil porque ainda não aprendemos a fazer coisas consideradas importantes por quem está à nossa volta. É um problema de poder, de falta de empatia.
MARK Mas, quando se pega no legado de uma pessoa conhecida por poucos, há necessariamente algo mais que está em jogo. Seria completamente diferente se tivesses escolhido fazer um canções i comentários a partir das músicas de Bob Dylan. A história que queres contar a partir dos textos e as músicas do Blarmino é, também, como escreveste, “uma digressão pela memória recente de uma geração que nasceu depois do 25 de Abril e que parece cultivar o autoapagamento”.
RUI Toda a ênfase que pus neste trabalho está no escândalo da ausência, está nesse “autoapagamento”. Se pensarmos em figuras como José Afonso ou até mesmo António Variações e Xutos & Pontapés, a grande diferença está na forma como a geração desses cantores os celebrou e reivindicou como seus porta-vozes. O facto de Blarmino ter cantado em inglês terá certamente atenuado esse impacto. De qualquer maneira, nenhuma geração anterior foi tão cosmopolita, bilíngue, e com acesso facilitado aos meios de informação e difusão permitidos pela Internet e as redes sociais. É uma contradição desconcertante. Quando a partir de 2009 começaram a generalizar-se as manifestações de rua, era gritante a ausência de um discurso para além da falta de trabalho e de oportunidades. Nesse mesmo período foram recuperadas as canções de José Afonso para o espaço público. Deveriam ter sido também as canções do Valete, do B Fachada, do Samuel Úria. Na sua fase acústica, Blarmino atuou muitas vezes num pequeno bar de Alfama, o Arcaz Velho (onde habitualmente apareciam cantores a fazerem covers de Tracy Chapman, Ben Harper, etc.) e as pessoas ouviam aquelas canções sem perceberem que estavam a ouvir algo novo, que era sobre um novo tempo, o seu tempo. Havia pessoas a pensar que já conheciam aquelas canções — não distinguiam entre a “familiaridade” de algo que já tinham ouvido antes e a “familiaridade” de algo que nunca tinham ouvido mas lhes dizia respeito. A tese que defendo em canções i comentários é a de que Blarmino é a grande voz da sua geração exatamente porque não foi escutada pela sua geração. Há uma letra de Blarmino muito enfática a esse respeito: “You’re telling me to be quiet, but I’ve got something to tell, I’ve got a mouth full of words and they are flying like birds and they will send me to hell. You’re the one that I’m needing and you just tell me to stop, am I keeping you from breeding? That’s a good reason to leave me or not.”
MARK Trabalhaste com ele na preparação e criação da peça?
RUI Não. Cheguei a propor-lhe uma colaboração, mas recusou. Quando tive a ideia de canções i comentários, não a concebi como uma peça, mas como um conceito, que me permitiria explorar várias peças (um pouco à semelhança de Dentro das palavras, que originou quatro peças interligadas, e de que Av. dos Bons Amigos é o quinto episódio). Para canções i comentários, cheguei a ter duas ideias mais populares: a primeira era fazer um espetáculo com as canções de 1971 do José Cid — que foram na altura censuradas e que são desconhecidas até do seu público (entretanto foi reeditado o seu primeiro LP num excelente trabalho de restauro); a segunda ideia era recuperar as canções da minha geração. A música de Blarmino deu-me o contexto de uma nova geração e permitiu-me abordar a história do país no início deste século. Foquei-me no período em que acompanhei de perto as grandes mudanças que ocorreram na sua música, que passou por três fases distintas, e que de certa forma correspondem a três momentos na vida do país.
MARK Podes explicar melhor?
RUI Antes de “o” Blarmino, existiram “os” Blarmino e faziam tecno. O segundo elemento, Pedro Oliveira, está comigo na peça. Quando os conheci ainda viviam em Coimbra e chamavam-se Spider. O que me impressionou logo neles foi a sua riqueza de soluções dentro de um género tão limitado. Eles faziam música de dança, mas reconheciam-se ali canções. As letras eram impressionantes, visionárias. Já como Blarmino, mudaram-se para Lisboa, onde tocaram no Europa, no Mercado da Ribeira (numas festas organizadas pelo João Garcia Miguel) e na Galeria ZDB. Entretanto iniciaram uma fase de transição para um formato de canção rock. Foi nesta fase, em que montaram um estúdio na casa onde eu estava a viver, que acompanhei mais de perto o trabalho deles. Depois fui para a Roménia e já não assisti ao último concerto deles (uso na peça algumas gravações desse concerto no Left — um bar em Santos). Quando regressei, o estúdio tinha sido destruído numa inundação e a parceria também se desfez. O Pedro Oliveira começou a tocar com um grupo de reggae e Blarmino viajou para o Nepal. Quando voltou começou a tocar guitarra acústica. Até abandonar Portugal, dois anos depois, escreveu à guitarra mais de meia centena de canções.
MARK E o espetáculo?
RUI É uma viagem musical pelas três fases. Dei prioridade a canções que começaram por ser temas de tecno, e depois sobreviveram a diferentes arranjos e estilos até à fase acústica. Antes de começar a trabalhar com o Pedro Oliveira, estava muito interessado em comparar as diversas versões da mesma canção. Mas depois ele começou a fazer uns arranjos muito bonitos para as gravações acústicas e abandonei boa parte dessas comparações. A maior conquista deste trabalho é eu ter reatado em palco, com o Pedro a tocar por cima das gravações, a dupla de trabalho da formação original de Blarmino.
MARK Das canções aos comentários: conhecias e conheces o Blarmino como amigo, como jornalista de música e, agora, como fazedor de teatro. De quem, destes três, são os comentários?
RUI Quando descobri Blarmino já não fazia jornalismo musical. Comecei por ser um fã da música. Cheguei a ir de propósito ao Minho e a Coimbra para assistir aos concertos. A amizade veio depois. Uso as ferramentas de crítico musical um pouco à semelhança daquilo que fez o Nabokov em A verdadeira vida de Sebastian Knight, que é a história de um narrador a defender o génio literário do irmão. A personagem principal de canções i comentários é a própria música de Blarmino. As histórias que conto são as aproximações possíveis de um crente que partilha a sua fé. Se aceitarmos que a experiência religiosa é a procura de ligar aquilo que está separado, então esta peça é uma tentativa de ter essa experiência com o público. Blarmino desapareceu e a sua música é desconhecida — e no entanto existe. O trabalho do Cristóvão Cunha na luz enfatiza muito bem essa ideia.
PEDRO Habituamo-nos a ver nos discos a prova final de um trabalho — quase sempre recupera-se um disco perdido no tempo. O que gravita à sua volta — demos ou concertos — são sempre formas temporárias, simplificadas, ou não. A primeira dúvida que tenho é perceber que Blarmino se deve resgatar, pois nenhuma das formas que ele nos dá — versão acústica, elétrica ou eletrónica — me parecem particularmente concluídas. Supondo, e é o mais provável, que Blarmino faria hoje algo muito diferente, ou simplesmente terminado, o que estamos exatamente a recuperar? Até que ponto este indeterminismo é importante para a tua peça e confronto com Blarmino? É importante teres uma forma inacabada para te confrontares com ela e escrever nos seus interstícios?
RUI Sim, a peça que fiz não teria cabimento se a música de Blarmino tivesse sido editada. Uma das maiores dificuldades que tive foi convencer Blarmino a deixar-me utilizar este material.
PEDRO A primeira surpresa que tive com a audição das canções de Blarmino foi uma incapacidade em determinar o tempo delas. As canções acústicas parecem-me ter trejeitos da pop dos anos 80 — embora se percebam influências da folk das décadas anteriores —, os temas mais eletrónicos têm uma certa ingenuidade tecnológica dos anos 90, e afinal tudo vem deste século. Embora algumas canções sejam incrivelmente fortes, parecem-me fora de tempo.
RUI Quando os Daft Punk lançaram o seu primeiro álbum, eu dei-lhes nota máxima no suplemento musical do Público, pela forma como eles resgatavam uma certa maneira fora de moda de fazer música de dança. Na semana seguinte, no Expresso, o Ricardo Saló considerou Homework um candidato ao pior disco do ano. O Dylan, o Costello, The Band, Smiths, REM, Nick Cave, Will Oldham também fizeram uma música fora do seu tempo. Mesmo na sua fase de dança, os Blarmino preferiam a tecno de Detroit aos subgéneros atualizados que então faziam moda. Usavam só equipamento analógico, por exemplo. “Fuck Cubase, fuck Pro Tools, we are all from the same schools”, escuta-se num dos temas.
PEDRO Imaginando que Blarmino ganha notoriedade suficiente para regressar musicalmente e impor estas (ou outras) canções, como vês a tua peça num contexto oposto ao que tens hoje?
RUI Quando fiz o Dentro das palavras fizeram-me uma pergunta semelhante, pela forma como a peça tinha sido apresentada no contexto muito pessoal de uma depressão. Quatro anos depois continuo a apresentá-la. canções i comentários põe em evidência um buraco, uma ausência, um desperdício. Nenhum regresso pode eliminar esse vazio. A geração de Blarmino não ocupou um lugar na sociedade portuguesa. Isso é uma calamidade histórica, tal como foram as quatro décadas de ditadura, as duas décadas de guerra colonial, ou as três décadas de um desenvolvimento fictício, baseado na especulação, no endividamento, na ignorância das forças e fragilidades reais do país. Nenhum sonho está isento da hora de acordar.
Menores de 30 anos 5€
inserido no 31.o Festival de Almada
Sinopse
inserido no 31.º Festival de Almada
Canções i comentários é: um acto de resgate cultural; um documentário cénico sobre a música de Blarmino; uma narrativa sobre o seu talento e insucesso; um exercício de interpretação, escuta e encenação das suas canções, com suas histórias e anedotas; uma digressão pela memória recente de uma geração que nasceu depois do 25 de Abril e que parece cultivar o auto-apagamento; uma celebração musical colectiva.
Através das canções e das histórias de Blarmino, músico e escritor de canções, Canções i comentários propõe fazer eco da voz, da palavra, da poesia, e do sentido histórico de uma geração inteira de jovens adultos sem ocupação aparente, sem emprego, que passou a sair à rua para expressar a urgência de encontrar uma presença activa na sociedade, mas que parece perdida na reivindicação de um caminho, para além da fuga – ou para dentro de si mesma, ou para fora do país.
Não se trata de reivindicar o mundo como ele deveria ser, mas de encontrar um lugar nele. Como canta Blarmino numa canção já escrita de Londres para os portugueses em 2012: “Boy/ Vou-te contar como até dói/ A bicharada emergiu do esgoto e invadiu/ o Cristo-rei// E uma a uma/ Até já não sobrar nenhuma/ Lá fui comendo a sumaúma / Da almofada em que repousei…// Toca lá essa/ Antes que esqueça / Iá, curto cenas maradas/ O que é que se faz por aí?”