How Can We Be Joyful in a World Full of Knowledge
Bios
BRUNO PERNADAS (1982)
Iniciou o seu percurso musical com o estudo de guitarra clássica aos 13 anos. Completou o Curso de Jazz do Hot Clube de Portugal (HCP) e licenciou-se em Música, variante de Jazz, pela Escola Superior de Música de Lisboa (ESML). Estudou com Pedro Moreira, João Moreira, Afonso Pais, Sérgio Azevedo, Lars Arens e Vasco Mendonça, entre outros. Participou em workshops, masterclasses e estágios com a Orquestra de Jazz da ESML, Carlos Barreto, a Big Band do Instituto Piaget, John Taylor, Lee Konitz, San Francisco Jazz Collective, Pete Rende, Ohad Talmor, Ben Monder e David Binney. Lidera o grupo When We Left Paris — Jazz Ensemble, desde 2008, Julie & The Carjackers, em parceria com João Correia, e tem o projeto a solo L’appartement. Foi músico em cena e compositor do espetáculo de novo circo Ferloscardo e do espetáculo de teatro Às vezes as luzes apagam-se de Cláudia Varejão e Pedro Gil. Recentemente editou How can we be joyful in a world full of knowledge.
AFONSO CABRAL (1986)
É membro fundador da banda You Can’t Win, Charlie Brown (YCWCB) na qual, além de compositor e letrista, é vocalista, teclista e guitarrista. Com os YCWCB, editou os álbuns Chromatic (2011) e Diffraction/Refraction (2014), trabalhos com que o sexteto se apresentou no Centro Cultural de Belém, no Cinema São Jorge, nos festivais Paredes de Coura e Optimus Primavera Sound, e até mesmo ao Reino Unido e no South by Southwest em Austin, Texas. No seu currículo, conta também com participações em discos de Noiserv, Minta & The Brook Trout e Bruno Pernadas.
FRANCISCA CORTESÃO (1983)
Não concluiu os estudos de piano no Curso de Música Silva Monteiro, no Porto, mas concluiu a Licenciatura em Comunicação e Cultura e o Mestrado em Edição de Texto, ambos na Universidade de Lisboa. Cantora e compositora desde 2007, tem editado e tocado regularmente com Minta & The Brook Trout. Editou o primeiro disco, o homónimo da banda de adolescência, Casino, em 2001. É membro dos They’re Heading West e gravou Os Sobreviventes com B Fachada e João Correia, em 2012. Participou em trabalhos de Capicua, Bruno Pernadas, TAPE JUNk, Walter Benjamin, David Fonseca, Sérgio Godinho, B Fachada e Márcia.
JOÃO CAPINHA (1985)
Frequentou o Conservatório de Caldas da Rainha e frequenta atualmente a Licenciatura em Jazz, na ESML. Integra a Big Band do Município da Nazaré, a Reunion Big Jazz Band, a Tora Tora Big Band, a Big Band do HCP, a Orquestra de Jazz de Leiria, o doBop (Quarteto de Saxofones) e o J.C. Project. Trabalhou com vários professores como Perico Sambeat, Henk Van Twillert, Pedro Moreira, Bernardo Sassetti, Bernardo Moreira, Nelson Cascais e Filipe Melo, entre outros. Leciona saxofone no Conservatório de Lisboa, no HCP e no Círculo de Cultura Musical Bombarralense.
JOÃO CORREIA (1982)
Frequentou o curso de Jazz no HCP, em 2001, na vertente de Bateria. No seu percurso profissional, trabalhou com artistas de vários estilos musicais, como Frankie Chavez, Márcia, Walter Benjamin, Groove 4tet, Aduf, Manuel Paulo, They’re Heading West e Tiago Sousa, entre outros. Em 2009, fundou o projeto Julie & The Carjackers com Bruno Pernadas, no âmbito do qual é coautor, guitarrista e cantor. Em 2012, participa na reedição de Os Sobreviventes com B Fachada e Francisca Cortesão (Minta), a convite de Sérgio Godinho. Em 2013, lança o projeto a solo TAPE JUNk e edita o disco de estreia The Good & The Mean.
ZÉ MARIA (1987)
Inicia os seus estudos musicais aos 7 anos. Aos 17 anos, integra a Big Band do HCP. Em 2006, foi premiado na Festa do Jazz do São Luiz. Licenciou-se em Jazz pela ESML e, simultaneamente, estudou com vários músicos de renome internacional, como Chris Cheek, Julian Arguelles, John Ellis e Perico Sambeat. Toca regularmente com a lenda cabo-verdiana Tito Paris. Em 2012, integrou a Jazz Orchestra of the Concertgebouw e em 2013, ano em que recebeu o grau de Mestre em Música, do Conservatório de Roterdão, foi convidado para a digressão anual da prestigiada European Jazz Orchestra.
MARGARIDA CAMPELO (1988)
A sua atividade musical começou cedo em trabalhos de estúdio como jingles, dobragens e coros. Inicia os estudos musicais aos 13 anos, no piano clássico. Três anos mais tarde, é aceite na Escola de Música do Conservatório Nacional, no curso de canto lírico. Em 2006, ingressa na Escola de Jazz do HCP e em 2009 na ESML, em ambas no curso de Piano Jazz. Atualmente, é professora na Escola de Jazz do HCP e dá concertos regularmente em vários países. Integra diversos projetos, tais como Julie & The Carjackers, Suzie’s Velvet, Real Combo Lisbonense, Sara Serpa “Fragmentz”, Dead Combo e Orquestra das Caveiras, entre outras.
MOISÉS FERNANDES (1982)
Iniciou-se no mundo da música ingressando na Filarmónica na Madeira aos 11 anos de idade. Em 1993, iniciou os seus estudos formais em música, no Conservatório da Madeira (CEPAM), onde estudou oito anos. Prosseguiu no Hot Clube Portugal e terminou a sua formação em 2010, no Conservatorium Van Amsterdam, com o mestrado em trompete jazz. Tocou e/ou gravou com a Orquestra Clássica da Madeira, a Big Band do HCP, Rui Veloso, Tiago Bettencourt & Mantha, Oquestrada, HMB, Groove Quartet, Selma Uamuse, Emil Bovbjerg NewSeptet, João Firmino, José Dias Quarteto, entre outros.
NUNO LUCAS (1979)
Aos 18 anos de idade, iniciou o seu percurso autodidata no baixo elétrico. Entre 2001 e 2003, estudou com Nuno Allan e Nuno Serra na Escola Crescendo de São João do Estoril. Tem colaborado, em estúdio e tocando ao vivo em vários projetos musicais de Walter Benjamin, Dá de Márcia, Julie & The Carjackers, André Fernandes, TAPE JUNk, Pedro Lucas, Kalú, Frankie Chavez e Bruno Pernadas, entre outros.
RITA MARIA (1984)
Estudou canto lírico no Conservatório Nacional de Música de Lisboa, Jazz na Escola de Jazz do Barreiro, na Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo e na Berklee College of Music em Boston. Colaborou com Elias Meister, Yeray Jiménez, Nuno Costa, João Firmino, Kiko Pereira, Igor Icaza e Sal y Mileto. Nos últimos três anos, lecionou no Instituto de Música Contemporânea da Universidade de San Francisco e na Universidad de la Américas, ambas em Quito, e no Global Music Institute, em Nova Deli. Lançou recentemente o seu disco Míope e o Arco Íris em colaboração com o guitarrista Afonso Pais.
RICARDO GOUVEIA (1980)
Concluiu o 8.º grau do Curso de Viola Dedilhada (2003), com o professor Paulo Amorim, na Escola de Música do Conservatório Nacional de Lisboa. Estudou guitarra flamenca com Pedro Jóia entre 1999 e 2001. De entre os vários projetos em que participa, destacam-se Vientos Del Sür, Vooduo, Quinteto Letícia Vasconcellos, Ahí Nama’ e Espírito Nativo. Participou como compositor, arranjador e intérprete nos projetos Dazkarieh, em 2003/2004; Mahamudra, do qual faz parte desde 1999; e Oi Elis! (2008), com a cantora portuguesa Susana Travassos.
Folha de Sala
Quando ouvi a primeira gravação deste trabalho, há muitos meses, tinhas arranjado um novo nome para ti. Entretanto, assumes ser “quem és”. Isto quer dizer que ouvimos agora a música que te é mais fiel? Ou é aqui se juntam os teus vários mundos?
Teve mais que ver com o disco. No início, pensei que seria melhor ter nomes para as diferentes coisas que faço. E neste caso, eu quis um nome diferente para não se confundir com o que faço dentro do jazz. Mas achei que estava a criar demasiados nomes. Mas não acho que seja representativo do que faço — o que faço com When We Left Paris não tem nada que ver com a música de How can we be joyful…. O que vier a seguir pode não seguir esta linha pop, tão tonal, e posso gravar algo muito diferente. Aliás, vou mesmo gravar algo muito diferente.
Mas seres aqui “Bruno Pernadas” quer também dizer este é o teu projeto mais individual, justificando o uso do teu próprio nome?
Sim, isso é verdade. When We Left Paris é o meu grupo, sou eu que componho, mas é o resultado de um coletivo de pessoas.
Tinhas estas composições numa gaveta de ideias, registadas em casa, e o João Paulo Feliciano desafiou-te a gravá-las do zero, em estúdio e com músicos. Quão diferente seria How Can We Be Joyful… se não tivesse havido esse desafio?
Quando tive essa proposta, passei a ter acesso a sons que não tenho nem consigo em casa. Como não uso MIDI, teria tudo ficado mais lo-fi, sem a definição com que ficou, embora, atenção, eu tenha querido mesmo que algumas coisas ficassem lo-fi. No estúdio, acabei por gravar guitarras ou bateria, por exemplo, com muito melhor qualidade. Em casa, gravamos tudo baixo, muito próximo e íntimo, mas, em estúdio, podemos tocar mais alto e captar muito melhor o som dos instrumentos. Ainda assim, eu acabei por regravar coisas em casa para manter o espírito lo-fi que queria no disco. Aliás, eu usei coisas das demos; no disco, ouves as primeiras ideias que tive, gravadas a meio da tarde com o som dos autocarros a passarem na rua. Eu gosto muito desses sons, no limite da gravação, em que a placa de som do computador quase funciona como um amplificador.
Mas, com meios técnicos novos e músicos convidados, as ideias não mudaram de rumo?
Sim, mudaram. Ouvindo os sons bem gravados e com definição, com novos timbres, houve novas ideias que apareceram de repente. Coisas acidentais, mesmo. Por exemplo, o solo de vibrafone no tema Guitarras não existia, pois era para acabar ali e passar para outra coisa. Só que aquilo ficou em loop no computador, não me lembro por que razão, e, como o vibrafone estava montado, eu comecei a improvisar. Senti que refrescava o tema e mesmo não sabendo bem tocá-lo — eu toquei o vibrafone como uma marimba, sem o pedal. Na segunda parte de How would it be, há uma parte de expansão sonora à qual nunca teria chegado em casa, mas em estúdio, por ter um Korg MS20, decidi prolongar tudo.
Houve também um input dos músicos. Houve uma participação ativa deles ou usaste a sua técnica exatamente como pretendias?
Alguns músicos foram convidados para tocar o que lhes pedi, mas outros acabaram por participar mais ativamente. Por exemplo, na bateria, eu pedia sempre opinião do João Correia. Embora eu tivesse uma ideia do que queria do seu som, como aquela batida mais seca, a soar a anos 70, o João alertava-me para as consequências disso no meio da gravação, obrigando-me a repensar.
Um desafio: sugere um convidado distante que pudesse introduzir algo novo e inesperado.
Não adoro a música dela e sei que é estranho referi-la, mas acho que gostaria muito de trabalhar com a Cat Power. Para influenciar a minha música, talvez sugerisse o Marc Ribot. Ou alguém que dominasse um instrumento com quem tenho uma relação ausente, como o sintetizador modular — talvez o Roj Stevens, dos Broadcast.
Como pensaste nos arranjos para o concerto?
Como esta é a primeira vez que isto é transposto para palco, achei que fazia sentido ter os músicos do disco a participarem. Embora não queira dizer que isso aconteça a seguir. Vejo os arranjos a mudarem à medida que vou tendo outras oportunidades de tocar este disco.
O que é que o jazz e a improvisação trouxeram para esta obra?
São as partes de que mais gosto. Mas é por vir dessa escola. Apesar de gostar muito da escrita, pois há coisas que nunca se conseguem com a improvisação.
É isso que vais querer privilegiar ao vivo?
Em concerto, sim, e por isso o concerto será bem mais longo do que o disco. Aliás, o concerto será bem diferente do disco. Há sons que não vou usar, há zonas da música em que aparece improvisação, há instrumentos que em estúdio são precisos, mas ao vivo não fazem sentido. Mas é um concerto que é parte de um disco — e isso quero estar sempre consciente.
Vens do jazz, fazes um disco pop, mas este disco tem também um pouco da tua passagem pela composição clássica, não achas? Tem uma organização muito estruturada, e pela utilização das diferentes secções, parece quase algo orquestral.
Sim, é verdade. Talvez seja inconsciente o modo como isso está lá incluído. Uma coisa eu tinha a certeza: não queria fazer um disco de canções.
Há nalguns temas uma certa viagem por alguns destinos, tal como faz a Exotica. Foi algo que tu pré-determinaste?
Não, apareceu tudo espontaneamente, eu nunca determino nada. Em Julie & The Car Jackers, sim, quando queremos um tipo de som, mas em How can we be joyful… não. Por exemplo, o tal acidente que falava que originou o vibrafone fez com que se viajasse pelos trópicos.
Por falar em destinos, para onde irás a seguir a este disco?
Se eu gravasse já um novo álbum, não iria continuar a linhagem deste. Porque quero gravar o meu grupo de jazz primeiro. Mas hei-de seguir um pouco estas ideias, sim, com este conceito de um todo, em que procuro fazer este tipo de trabalho. Até porque tenho em casa muitas músicas que poderão dar-me um disco de personalidade bem diferente deste.
entrevista a Bruno Pernadas por Pedro Santos, março 2014
Menores de 30 anos 5€
Sinopse
Apesar do agitado currículo de Bruno Pernadas ― When We Left Paris, Julie & The Carjackers ou Suzie’s Velvet ―, e de se perceber as diversas influências pelas quais se deixa fascinar, nada nos preparou para o arrojo conceptual de How can we be joyful…, uma maravilha pop, de propensão instrumental de um álbum que obriga a anos de reverência. Feito com ideias e apontamentos guardados, na sua maioria, entre 2012 e 2013, Bruno Pernadas conseguiu miraculosamente dar vida própria a um cadavre exquis feito de jazz, space-age pop, psicadélica, eletrónica ou exótica, fazendo-nos recordar os complexos cérebros de Jim O’Rourke, Van Dyke Parks ou Stereolab. Gravado com exímia mestria e paciência durante o ano passado, a riqueza de How can we be joyful…, tal como a conhecemos, seria irreproduzível ao vivo. Mas para este concerto único, Bruno Pernadas pega nas qualidades das suas composições e no poder de improvisação dos músicos que sobem consigo ao palco para explorar um mundo aberto de possibilidades, expandindo canções e temas bem além dos seus limites originais.