Ana Borralho & João Galante
Bio
Ana Borralho (Lagos, 1972) & João Galante (Luanda, 1968)
Ana Borralho & João Galante conheceram-se enquanto estudavam artes plásticas no Ar.Co. Enquanto atores/cocriadores trabalharam regularmente com o grupo de teatro Olho.
Desde 2002, trabalham em parceria nos campos da performance art, dança, instalação, fotografia, som e vídeo. Os seus trabalhos são apresentados em festivais internacionais em Portugal, França, Espanha, Suíça, Escócia, Brasil, Alemanha, Inglaterra, Áustria, Itália, Emiratos Árabes Unidos, República Checa, Eslováquia, Eslovénia, Finlândia. Das peças criadas em conjunto, destacam: Mistermissmissmister, sexyMF, No Body Never Mind, World of Interiors, Untitled, Still Life, Atlas, Linha do Horizonte e Art Piss (on money and politics). Desenvolveram conjuntamente com Mónica Samões, o projeto No Jogo do Desejo ou o Choque Frontal (workshops/ateliês para um público jovem, 2008), a realização do vídeo documentário Eu Não Tu (2009) e o espetáculo infanto-juvenil A Linha ou O Deserto já não é uma casa vazia (2009).
Entre setembro e novembro de 2010, o Teatro Maria Matos apresentou uma pequena antologia das suas performances sob o título O Mundo Maravilhoso de Ana Borralho & João Galante.
São membros fundadores da banda de não-músicos Jymmie Durham, cofundadores da associação cultural casaBranca, programadores e diretores artísticos do festival de artes performativas Verão Azul e coprogramadores do festival de música eletrónica Electrolegos, ambos em Lagos.
Vivem e trabalham entre Lisboa e Lagos.
Folha de Sala
“Pareceu-me que este espetáculo era exatamente o que o teatro devia estar a fazer agora, ou seja, a contrapor o poder das pessoas comuns e do teatro às forças que querem que acreditemos que nada disso interessa. Construir, afinal, um atlas histórico e geográfico da sociedade humana num momento particular como uma forma de lutar por um futuro sustentado.”
Francesca Rayner, investigadora Universidade do Minho
A Multidão Futura
Desde a irrupção da Revolução Industrial, a gradual distribuição dos cidadãos por cargos ultraespecializados foi conduzindo a uma literal fragmentação da coletividade, enquanto corpo inalienável. A unidade do universo humano é conferida em Atlas, não pela sua governação, mas pela junção de todos e quaisquer sujeitos instituídos como cidadãos, veiculando assim a formação de um sensus comunis baseado na funcionalidade e manutenção do aparelho social. Edificando o fazer como substrato comum, os cidadãos em palco vão-se assumindo gradualmente como multidão até esta adquirir o estatuto de um ser indivisível que, tacitamente, se estende à escala planetária.
Consoante a gestão do mundo vai sendo entregue à circulação infinita de um capital autorreprodutível que, assim, assume um carácter inumano, a consciência da infimidade dos sujeitos vai-se tornando mais aguda, pelo que apenas a escala da multidão é garante de sustentabilidade do corpo social. Corpo sempre em iminente risco de colapso, mas também o único agente que sustém a noção de futuro.
Do mesmo modo, ao incluir a multidão e, por inerência, o sublime social, a obra de arte corre o risco da sua mesma desagregação, enquanto produto institucional. Ainda assim, é na diluição da autoria e subsequente entrega a todos os cidadãos que a arte assegura a sua monumentalidade, ao torna-se indistinta do campo do imprevisível, quer este seja oriundo da natureza humana ou dos seus destinos.
Fernando L. Ribeiro, artista plástico e professor universitário
Sinopse
Na mitologia grega, Atlas é aquele que foi condenado por Zeus a carregar o céu aos ombros. Com 100 pessoas de diferentes profissões em palco, Ana Borralho & João Galante pretendem construir um Atlas da organização social humana, uma representação dos seres humanos através da sua função na sociedade em que se inserem.
Atlas estreou em 2011, por ocasião do 42.º aniversário do Teatro Maria Matos. Com 100 pessoas em palco e a casa esgotada, Atlas foi — mais do que um espetáculo —um verdadeiro acontecimento com ressonâncias além do teatro. A investigadora Francesca Rayner da Universidade do Minho escreveu a este propósito: “Pareceu-me que este espetáculo era exatamente o que o teatro devia estar a fazer agora, ou seja, a contrapor o poder das pessoas comuns e do teatro às forças que querem que acreditemos que nada disso interessa. Construir, afinal, um atlas histórico e geográfico da sociedade humana num momento particular como uma forma de lutar por um futuro sustentado.”
Depois de uma digressão internacional que levou Atlas a várias cidades nacionais e internacionais, regressa agora ao Teatro Maria Matos neste Dia Mundial do Teatro para relembrar que a sua pertinência se mantém intacta.